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  • Vera Cristina

Home office ou do lar?


Fotos: arquivo pessoal


Já houve um tempo em que a ocupação das mulheres que ficavam em casa era chamada oficialmente como “do lar”. Eu me lembro de ter ouvido isso algumas vezes, com a minha mãe, quando ela precisava preencher sobre sua profissão, em algum documento. Era também uma resignação a algo que era feito, mas não valorizado pela sociedade e não reconhecido pela maioria dos maridos – afinal das contas, eram eles que “trabalhavam”! O “do lar” era algo de pouco valor ...


Esta pandemia do coronavírus trouxe, para muitas pessoas, algo engraçado, eu diria: elas também se tornaram, sem querer, do lar. O termo “home office” parece querer trazer um ar de modernidade à atividade mais antiga desde que o ser humano passou a viver em comunidades – cuidar do lugar onde se vive.

Pode ser que, ainda nesta pandemia, muitos mantiveram em atividade seus funcionários domésticos – majoritariamente, mulheres – e, com isso, não se apropriaram das atividades que fazem alguém ser “do lar”. Porque uma coisa é levar o escritório para casa e outra alguém levar-se para a casa! Explico: na minha opinião, você só se tornou “do lar’ se agora é responsável, integral ou parcialmente, pelos cuidados com a casa – limpar, arrumar, lavar e passar roupas, cozinhar, lavar louça e fazer as compras. Muitas pessoas estão trabalhando de casa, mas esta continua sendo cuidada e gerenciada por outrem – muitas vezes, quem já cuidava antes.

E percebo aqui um problema. Não apenas a sobrecarga maior de quem já cuidava da casa, mas a perda de alguns espaços, agora ocupados pelo computador, estante com livros, papéis e objetos estranhos.

Será que essa mulher ainda pode parar no meio de suas tarefas domésticas e ficar acariciando e conversando com suas plantas, enquanto as molha? Pode tomar sua xícara de café ao lado da máquina de lavar, de tampa aberta, mas vazia (ou cheia) de roupas, enquanto olha o céu e respira? Pode fazer sua faxina na sala/quarto/banheiro ouvindo música e dançando com a vassoura/rodo, sem ser vista como louca ou extravagante?

Poderá ter, como eu tenho neste instante, um espaço para escrever sobre suas angústias, medos, descobertas? Ou ele foi ocupado pelo ensino à distância dos seus filhos ou o home office do marido?

E você, que saia para trabalhar, mas agora continua fechada em casa, conseguiu, se permitiu ser, orgulhosamente, “do lar”? Abriu-se para toda a potência, todas as possibilidades sensoriais, emocionais que as atividades com o cuidar da casa e de seus moradores nos possibilitam?

Se sim, parabéns! E se ainda não, aproveite e crie o seu espaço físico, temporal, emocional e permita-se viver esta experiência, mas aproveite-a para aprofundar-se na sua casa interna principalmente.


20.v.2021

- procurando meus espaços externos e internos

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