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  • Vera Cristina

#dia 20 - Um pedido de ajuda ao futuro

Domingo no Rio de Janeiro, depois de visitar e deliciar-me com todas as vistas maravilhosas de praias, montanhas e florestas, me pergunto o quê fazer. Resolvo visitar um museu— o Museu do Amanhã! Ando à toa pelas galerias e ... surpresa! Vejo algo do passado: um aparelho de telefone preto, pesado, com disco. Me pergunto se os jovens que passeiam por ali saberiam usá-lo. Resolvo brincar —é domingo! Pego o telefone e disco um número aleatório.

Uma voz feminina, muito séria, atende:

- Pois não, senhora. Com quem deseja falar?

Embasbacada, gaguejo algo.

- Poderia repetir, por favor? Não consegui entender.

Sem saber com quem gostaria de falar, respondo sem pensar:

- Matilda, 2035, por favor.

- Um momento, que nesta linha, minha colega Siri é quem dá o suporte ...

Ouço um barulho eletrônico, como se algo viajasse pelo espaço sideral, talvez pelo tempo, não sei ao certo porque nunca viajei em nenhuma dessas dimensões.

Uma voz um pouco metálica, feminina, me atende:

- Olá, sou a Siri, sua assistente para comunicação extra-temporal. Como posso ajudá-la? Com quem gostaria de falar, por favor?

Mais baratinada ainda (será que usam desinfetante alucinógeno aqui?), insisto em minha resposta anterior:

- Matilda Silva, 2035, por favor.

- Um momento ... verificando conexões ... estabelecendo protocolos de segurança para eventos intra linha do tempo ...

...

Uma voz jovial atende do outro lado:

- Alô! É você, bisa Cristina?

Mais destrambelhada ainda, respondo com voz embargada:

- Sim, mas quem é você, querida? Eu só disse o nome que me veio primeiro à mente.

- Sou sua bisneta Matilda, filha do Cauê e da Priscila. Acho que você ainda não a conheceu ...

- Ahhh ... que coisa linda ... nem sei direito porque isto está acontecendo ... não tenho nada a pedir. Ouvir sua voz doce me acalma, parece o Cauê falando, só que em versão feminina.

- Bisa, na verdade, fui eu quem enviou vibrações neurais para que a senhora me ligasse ... queria pedir algo ... mas, agora, estou com vergonha ...

- O que é isso, querida! Pode pedir para a sua bisa!

- Sabe aquele seu caderninho com capa branca e desenho de flores de jasmim-manga? Minha vó Sofia me falou muito dele e como gostava de folheá-lo quando a senhora foi morar com ela. Mas, agora, ninguém consegue achá-lo e eu queria muito te conhecer através dele e, com isso, entender algumas coisas minhas.

- Hummmmm. Nem tenho ideia de como fazer isso. Vamos combinar assim: ele vai sempre ficar na caixa marrom com bolinhas brancas, junto com alguns álbuns de fotos. E vou deixar a caixa na ... ...

De repente, a conexão se cortou e ouvi novamente a voz metálica de Siri:

- O tempo de conexão entre momentos diferentes na linha de tempo alcançou o número máximo de informação permitida e a ligação foi encerrada. Timegates agradece a compreensão. Keep safe!

...

O silêncio foi quebrado de repente por um grupo de visitantes japoneses que, acompanhados pelo guia, se amontoaram ao meu redor e começaram a tirar selfies comigo, segurando aquele pesado fone. Mal tive tempo de secar os olhos e, fungando, engolir o restante do meu espanto e emoção.

Percebo que preciso me manter lúcida para lembrar desta conversa e avisar minha filha sobre o local onde deixarei a caixa marrom de bolinhas brancas...

Saio do Museu e olho as águas da Baia de Guanabara. Penso ver uma boia salva-vidas; nela vejo um código MS-2035. Meus olhos se arregalam e grito: Siri!!!!!!!

20.vii.2020 meio da tarde



Fotos: Museu do Amanhã (fonte: Mario Roberto Durán Ortiz, wikimedia); caixas de presente (fonte: bagsbowsandboxescloseout.com)

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