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  • Vera Cristina

O deus das pequenas coisas

Acordei hoje e logo abri a janela do meu quarto. Não queria apenas ver a chuva, queria saber algo do mundo “lá fora”. Nos últimos dez meses têm sido assim, precisamos das janelas para saber do mundo. Às vezes, é a janela da sala que se abre para a rua e vemos se tem carro ou pessoas transitando por ela; às vezes, queremos saber dos vizinhos— Dona Laura não abriu as cortinas, estará bem? As crianças do apartamento do prédio em frente deixaram os brinquedos na varanda e choveu toda noite ...; às vezes, só queremos uma notícia boa. As telas—do computador, do celular, da TV— tornaram-se nossas janelas para o mundo. E trouxeram toda sorte de notícias, infelizmente, a maioria bem triste.


Mas quem, nesta época de pandemia, desconsolo e desamparo, olhou pelas janelas da alma? Quem ousou olhar o outro nos olhos para aproximar-se de quem coube ficar junto de nós agora? Quem conseguiu olhar-se, sem precisar de espelhos?


Quem conseguiu olhar por todas essas janelas e viu apenas a vida, simples, complexa, bonita, difícil e rica de detalhes, como sempre foi? A você, um brinde especial de final de ano. E para quem não conseguiu, desejo, sinceramente, que não deixe de tentar, uma vez mais, outra quem sabe, porque, em algum momento, você vai ser tocado(a) pela beleza que descansa nas pequenas coisas, como a gota de chuva que espera seu momento de lançar-se no infinito, da borda de uma folha. Apenas olhe, não pense, respire calma e profundamente.

Para 2021, além da vacina acessível para todos os habitantes humanos deste planeta, desejo que os vidros das janelas estejam limpos e que elas permitam que vejamos a vida com olhos novos e atentos aos pequenos movimentos que nos levam a descobrir nossa essência.

27.xii.2020



Fotos: arquivo pessoal.


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