- Vai querer CPF na nota?
- Sim, por favor. 222.222.222-02
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- Ah, pode deixar que arrumo as compras na sacola que trouxe.
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- A senhora vai limpar minha sala, agora? Então, vou aproveitar e ficar lá fora no sol um pouco.
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- Moça, quer que olhe o carro?
- Pode ser, obrigada.
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- Moço, aqui tem umas moedinhas, desculpe, não tenho mais trocado.
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- Garçom, gostaria de fazer meu pedido agora. Vou querer o prato do dia, tagliatelle com cogumelos e a salada verde, por favor.
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Na grande sala de reuniões, na sede central da Universidade, após o almoço, espero que comece a reunião dos vários setores com o reitor, nosso chefe máximo. Ainda não nos conhecemos pessoalmente, mas votei nele na última eleição. Ele conversa com docentes e altos funcionários duas fileiras à minha frente. De repente, ele volta o seu olhar para mim e sorri. Sorrio de volta. Ele estende o braço direito e faz com a mão um gesto de chamar alguém. Não sou eu e recolho o meu sorriso. Olho para trás e vejo a moça que serve o café. A “moça que serve o café”. Quem sabe agora, quando o reitor falar com ela, vou saber seu nome e, ao me servir, vou poder responder, “Ah, que ótimo este café depois do almoço, antes de uma reunião longa. Ainda mais tão cheiroso. Obrigada, Clarisse.” Obrigada Clarisse, Maria, Patrícia, Odete, Solange ou algum outro nome. Mas nosso chefe só diz “mocinha, sirva-nos logo, por favor, preciso começar esta reunião e, sem café, não dá!”
Quando ela passa, com a bandeja com xícaras de café e uma garrafa térmica pesada, vejo em seu crachá – Olinda.
E percebo que em muitos momentos, somos Olinda e, em outros, o desconhecido que não nos vê.
A invisibilidade anula nossa potência como seres humanos— de ambos os lados da relação.
Saí tarde da reunião. Sem ter tomado café e sem ter conhecido Olinda. O reitor, esse, deixa para lá. Queria mesmo ter dito “obrigada, Olinda, seu café está muito cheiroso!”.
Fotos: caixa de supermercado (fonte: portalpainelpolitico.com); servindo café (fonte: cafe zhudifeng, shutterstock); flanelinha (fonte: redegn.com.br)