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  • Vera Cristina

#Capítulo 2 – Um gato chamado Agosto

Ele chegou de forma inesperada e sem que estivéssemos procurando por ele. Veio, pela rua, pendurado na boca de um cachorrinho, sendo balançado para lá e para cá, como se fosse uma pelúcia. Aquela visão meu deu uma agonia ... não era o prenúncio de um bom desfecho para aquele filhotinho, na boca de outro filhote brincalhão.

E assim foi que eu o “salvei” daquele destino, tirando-o daquela boca. Que ficou vazia, e seu dono me fitando, sem entender. Eu já tinha posto tela na grade do jardim para que aquele filhote e sua mãe não entrassem nele com seus restos de ossos e, agora, tirava seu brinquedo da boca! Humanos!

Quem não gostou do novo morador da casa foi nossa gata, Tininha, avessa a outros gatos. E essa agora, uma bolinha de pelos, que ficava indo atrás dela, puxando conversa, tentando amizade, ocupando colos antes à sua disposição. Claro que não deu certo! Nunca, até que seu corpinho cor-de-carvão foi descansar em cova rasa no nosso quintal, aqueles nunca dois se entenderam. Nem mesmo uma inimizade respeitosa. Era um vigiar nosso constante para evitar que ele, Agosto, agora um gato grande, meio selvagem, se atracasse com nossa velhinha rabugenta.

Agosto chegou em nossa casa em ... agosto! Parece que criatividade não estava disponível naquela época. Em minha defesa, vou dizer que eram agostos complexos, como já contei antes, com aulas novas, junto com difíceis questões de família. Casa nova, térrea, com portas largas, para poder abrigar o meu pai nas férias, recém em uma cadeira de rodas. Mas isso é uma outra estória, esta é a de Agosto.

Já teve gente que disse que Agosto é mistura de gato, jaguatirica e macaco. Não é para menos que se possa ter essa impressão. Lá na sua juventude, ele não se constrangia com janelas com grades. Subia rapidamente por elas para alcançar uma passagem aberta lá em cima, para ventilar a casa; para ele, uma abertura para entrar em casa e afrontar a Tininha.

Na minha casa nova, com jardim aberto, em um condomínio, Agosto não deixou nenhum cachorro se sentir à vontade em nosso gramado. Talvez devesse ser chamado de Gladiador, mas esse nome é muito longo.

Como os ventos de agosto que reviram as folhas do quintal, Agosto veio e sacudiu nossa vidinha pachorrenta de casa quieta, gata sossegada e vasos em ordem. Essa sabedoria do Universo, essa semelhança com a arte, que nos tira do conforto e nos coloca de volta no caminho, para caminhar, é o que mais me fascina nesta vida. E é por isto que este Agosto é tão querido. Ah, e fotogênico, o danado!


Fotos do arquivo pessoal



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