- Vera Cristina
#Capítulo 4 – O Natal em agosto
Eu jurava que ainda estávamos em agosto. A ventania que revirava as folhas no quintal e o tempo seco me avisavam disso, assim como o calendário na cozinha. Por isso, estranhei muito quando saí na porta de casa e me deparei com aquele outdoor enorme avisando sobre a chegada do Papai Noel no estacionamento do shopping da cidade. Olhei para os lados para verificar se mais alguém estava estranhando aquilo. Rapidamente, voltei para dentro, troquei os chinelos pelo sapato-de-sair-na-rua, coloquei a máscara e fui indagar aos rapazes que, tendo terminado de colar as folhas daquela propaganda, guardavam as escadas no pequeno caminhão para seguirem até o próximo local.
- Esperem, esperem, por favor — pedi, dando uma corridinha, esbaforida. Vocês se enganaram. Esta propaganda está adiantada. Ainda estamos em agosto! Como assim, Papai Noel no shopping? — já fui perguntando e duvidando.
Os dois rapazes prendendo a escada trocaram olhares, provavelmente pensando — ih, mais uma para quem teremos que explicar tudo.
- Minha senhora, olha só, nós só colocamos a propaganda, mas a senhora não sai de casa, não? Não vê TV? Ontem, no jornal das 8 (das 9, corrigiu o colega), a moça do tempo avisou que um ciclone extratropical veio e bagunçou tudo. Ou foi uma zona de alta pressão sobre o Atlântico Sul? Ah, não lembro, mas foi algo assim, além da pandemia, ventos vindos da Antártica (Antártida, corrigiu novamente o colega, de resto apenas movendo a cabeça, concordando) empurraram os meses e misturaram tudo. Então, é Natal!
- E o que você fez? —começou a cantarolar o até então quieto motorista.
- Ah, e pode se preparar, porque é capaz que depois do Natal venha a Primavera.
E entraram no caminhão e se foram.
E eu fiquei parada, atônita, a boca aberta, coberta pela máscara.
Quando dei por mim, estava em casa, no alto da escada, tirando do alto do armário a caixa com árvore, bolas, renas, neve de algodão para enfeitar a casa. Parei ao pensar se seria correto pegar a família Nazarena e já montar o presépio. Não queria que Jesus nascesse prematuro, ainda mais com esta pandemia que não acaba....
Agora, à tardinha, estou aqui, com Agosto no colo, olhando o caderno de receitas para escolher se faço arroz com champanhe e uva-passas ou Maionese com salsão e maçã no almoço de domingo! Ho, ho, ho!
